Denúncias requentadas não conseguem derrubar Agnelo

Análise feita por Wílon Wander Lopes, apoiado nos jornalistas Renato Riella e Hélio Doyle

Agnelo queirozQUEM circula por todo o DF, especialmente no Plano Piloto, onde se decidem as coisas distritais, ouve que o governador Agnelo Queiroz vai deixar o governo do DF a qualquer momento.
A confusão que existe entre as duas esferas de governo, a federal e a distrital, ambas com sede em Brasília,  aumentam o burburinho: já caíram sete ministros, agora vai cair o governador...

 

 


ANALISANDOAgnelo na capa da ISTOÉ
Segundo o jornalista Renato Riella, experimentado analista político, em seu blog, “Agnelo vai cair quando o Cascão tomar banho. Há um clima de desconstrução dominando o Distrito Federal, ainda como herança da Caixa de Pandora, que gera prejuízos em todas as áreas. De quebra, o governador e todos os que lhe cercam enfrentam a crise política sem estratégia nem inteligência, afogando-se em poças d’água (é o caso do soldado João Dias).
E a cidade vai na onda, esperando o desmoronamento de mais um governo. Reduzem-se investimentos, iniciativas diversas estão fracassando e nem mesmo a perspectiva da Copa do Mundo está empolgando. O ano de 2011 foi um terror em Brasília. Vamos deixar que esse quadro se repita em 2012?” – questiona Riella.

JULGAMENTO
E continua Riella: “No caso do governador do DF, para ser julgado pelo Superior Tribunal de Justiça, será necessário que pelo menos 16 dos deputados distritais votem autorizando esse processo. Arruda, que dominava a Câmara Legislativa, não cairia nunca, se não tivesse caído na besteira de tentar subornar uma testemunha, sendo flagrado no desvio de dinheiro público para esse triste fim.

SEM PROVAS
Vale lembrar que Agnelo Queiroz está sendo questionado (ainda sem acusação formal e sem provas aparentes) por questões ligadas ao Ministério do Esporte (de onde saiu em março de 2006) e da Anvisa (onde ficou até 2009). São situações anteriores à sua eleição para governador, que ocorreu em novembro de 2010. No caso atual, vale prevenir: se as apurações relativas ao Ministério do Esporte comprometerem o governador Agnelo Queiroz, o STJ só poderá julgá-lo se obtiver autorização nesse sentido da Câmara Legislativa – quando o Cascão tomar banho...”

BLINDADO
Fujam dos boatos e fiquem sabendo, afirma Riella: “Agnelo Queiroz só pode deixar o cargo de governador se renunciar ou se for concretizado um processo de impeachment na Câmara Legislativa, situação que parece quase impossível pelo domínio político que tem na maioria dos deputados. A propósito, ele acaba de ganhar o apoio de mais um distrital, Raad, que abandonou o DEM.
Sendo assim, tudo o mais é especulação de gente que não estuda as coisas antes de falar ou escrever. Não surgiram gravações comprometedoras, nem nada mais consistente, mas permanece como verdade a tese do ‘enriquecimento ilícito’. Assim, fica perigoso viver nesta democracia”, finaliza Riella.

NÚMEROS
Outro experiente jornalista, Hélio Doyle, que tem no currículo ser fundador do PT, Secretário de Cristovam e de Roriz no GDF, analisa o caso Agnelo em sua revista Meia Um: “Agnelo deve estar preocupado. Qualquer governante se preocuparia em constatar que sua gestão é aprovada, quase um ano depois da posse, por apenas 15,4% dos eleitores. E que a soma dos que acham seu governo ótimo e bom não passa de 10%, enquanto 64% consideram ruim e péssimo. Os números referentes ao governo de Agnelo Queiroz são de uma pesquisa confiável, do Instituto O&P Brasil – aliás, um dos pouco confiáveis em Brasília.”

IMPRESSÕES
E afirma Doyle: “Ou seja, as denúncias pegaram. A postura de Agnelo ao se calar mesmo ao se defender raivosamente não ajuda, pois passa a ideia de prepotência, arrogância... Pelo contrário, a população fica com um sentimento de ‘aí tem coisa’. A impressão que se passa é de que as denúncias já feitas e as que se diz que serão feitas intimidam e paralisam o governo. Por isso, os eleitores de Agnelo estão decepcionados, frustrados. No primeiro turno, em 2010, ele teve 48,4% dos votos. No segundo turno, conseguiu dois terços: 66,1%. Mas o governador mal recebe hoje o apoio dos 24% de eleitores fiéis que seu partido, o PT, tem como base mínima no Distrito Federal.”

COMPOSIÇÃO
Em seguida, Hélio analisa a composição do governo Agnelo, segundo ele, formado basicamente pelos mesmos políticos que deram sustentação a Roriz e a Arruda. E complementa: “Se o governo mostrasse que enfrenta as dificuldades herdadas com dinamismo, ousadia e inovação, esse seria o anunciado novo caminho, prometido na campanha. Mas não é o que acontece. Os métodos e muitos nomes são os mesmos, o governo parece paralisado, refém de interesses que não sabe ou não tem como enfrentar.”
Os velhos e carcomidos métodos de se relacionar com a Câmara Legislativa e com os partidos, como base no fisiologismo, no toma lá, dá cá, segundo o analista, mostram que esse caminho, seguramente, não é novo.

PARADOXO
É interessante notar que, embora a pesquisa de opinião pública revele que Agnelo está sem apoio popular, cresce a cada dia a adesão a seu governo dos políticos, tanto dos deputados distritais quanto dos partidos - que normalmente se afastam de quem não está bem nas pesquisas. Será que é só porque Agnelo tem a caneta do GDF na mão?

DIFERENÇA
As denúncias contra Agnelo são material requentado, já apresentado quando da campanha eleitoral. Como, mesmo assim,  os eleitores do DF preferiram dar o GDF para ele, subtende-se que já analisaram as denúncias e absolveram Agnelo delas, com o voto nele.
Assim, muito dificilmente Agnelo vai deixar o governo. A menos que renuncie, é preciso repetir. Mas, como o vice é Filipelli, cria de Roriz e ativo dirigente do PMDB, os PTs distrital e federal, ambos no poder, deixariam Agnelo renunciar?
A propósito da comparação com o caso dos ministros que caíram do governo Dilma, é preciso lembrar que eles foram nomeados e não eleitos, uma diferença fundamental em qualquer análise que se faça. Agnelo foi eleito, não é demissível.
Aliás, embora a decepção com os políticos, a verdade é que ninguém aguenta mais a instabilidade que a derrubada de Arruda causou em todos os setores. E o pior é que todos se lembram do caos que aconteceu depois da queda de Arruda. E isso soma a favor de Agnelo...
Assim, a menos que o Cascão tome banho, Agnelo fica no governo.